segunda-feira, 28 de março de 2011

Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão


"Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão..."- entoa uma música brasileira.

Isso me faz lembrar as doces recordações da minha infância, em que o mundo se me apresentava como uma realidade extremamente mágica, incrível, e maravilhosa demais para ser racionalizada, restando-me apenas admirá-la, como diria o saudoso Chesterton.

Como eu já tive a oportunidade de comentar aqui, eu não queria crescer, quando criança. O "mundo dos adultos"- com seus hermêticos e intricados problemas- parecia uma realidade muito distante e penosa. Preferia esconder-me sob o véu invísivel da minha infância, mantendo a vida como um idílico sonho, recheado de uma proteção imaginária e cercada das ternas alegrias infantis.

Mas o tempo- essa terrível realidade que não nos permite nos darmos ao luxo de caminharmos com nossas próprias pernas, mas sempre nos impele que nos submetamos ao ritmo que ele despoticamente nos impõe- arrastou-me para além dos imaginários limites que eu tinha traçado da minha infância- e se eu pudesse personificá-la, imaginá-la-ia cantando para mim, como na clássica música: "Ainda é cedo, amor. Mau começastes a compreender a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo para onde vais (...) Ouça-me bem, amor, preste atenção: o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir tuas ilusões a pó".

Crescemos todos nós e aprendemos muitas coisas, mas, infelizmente esquecemos os cândidos ensinamentos que nossa infância quis nos deixar de herança.

Passamos a racionalizar o mundo, o homem, a alma, esquecendo-se da mais sábia disposição infantil: o mundo e o homem são como os contos de fada: impossíveis de racionalizá-los, restando-nos apenas admirá-los. Trocamos nossos mais altruísticos e nobres desejos pela mais próxima quinquilharia que se nos é oferecida. Substituimos os relacionamentos baseados na confiança e no amor mútuos por relacionamentos marcados pelo ciúmes, inveja, ambição e orgulho.

Encantam-me os olhos de um bebê, de uma criancinha: olhos vivos, como que querendo absorver, de um só golpe, todo o Universo, trazer todas as sensações, experimentar todas as realidades.

Deve ser por isso que sou encantado pelo Pequeno Príncipe, de Exupery. É a realidade da alma humana que ele visita, ao visitar os planetas; afinal, como diziam os antigos gregos: o homem é um mundo em miniatura. E o melhor: tudo isso visto pelo olhar daquele que ainda sabe se fazer criança.

Geralmente, ao crescermos, cubrimo-nos de máscaras, pois sentimos a necessidade de enquadrarmos nossa personalidade, nossa maneira de ser e de viver nas exigências socias. Deixamos de fazer aquela cândida observação, de falar aquela tosca e agradável bobagem, de fazer aquela grande futilidade.. deixamos, enfim, de sermos nós mesmos, para parecermos sermos alguma coisa para os outros.

Alguns, pensando desferir-me uma crítica, enchem-me de lisonja, ao olhar para mim com ares de reprovação e dizer: "Tsc, tsc, parece uma criança"- então eu vejo que ainda há esperanças, que minha infância ainda me deixou legados, que ainda hei de perscrutar e achar belos tesouros nas caminhadas da vida.

Como disse um bacharel de Direito (Rodrigo Zimmerman) em seu discurso de formatura http://www.youtube.com/watch?v=TAATndQBfg4,

"E para terminar, meus queridos, gostaria de fazer um pedido para vocês.Não abondonemos a ingenuidade, não abondonemos o sonho impúbere. Meus queridos, quando olhamo-nos no espelho, vejamo-nos crianças, façamo-nos pequenos, quando tudo nos era grande".

Talvez é chegada a hora de abatermos nosso orgulho e, pensarmos, ainda que em um breve momento, que realmente, talvez, no fundo, no fundo, as nuvens nunca deixaram de ser de algodão e que, no fundo, vivemos em um conto de fadas, escrito num livro chamado Mundo.