segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Os sonhos são reais




http://www.youtube.com/watch?v=m9TAv-04qSs

Eis, acima, o trailler do filme "A Origem", protagonizado por Leonardo Di Caprio, com um roteiro que demorou mais de uma década para ser escrito.

O filme penetra nos mundo dos sonhos- ou melhor, no mundo da mente, das idéias.

Nele, o personagem trabalha com uma máquina que é capaz de invadir as mentes, penetrando no subconsciente das pessoas ligadas à máquina. Por meio desses aparelhos, ele consegue extrair sonhos- uma espécie de espionagem onírica.

O grande desafio para o protagonista, no entanto, é conseguir inserir uma idéia em uma mente (daí o nome original do filme: Inception).

O filme deixa bem claro o papel fundamental que as ideias tem na realidade humana. Ela não é um acessório- ela é a arma mais perigosa que se pode utilizar. Por meio da inserção de uma simples ideia no herdeiro de uma empresa, o personagem quer destruir um grande imperio financeiro de uma multinacional de energia.

O filme me fez lembrar de uma frase que eu gosto sempre de dizer: são as ideias que movem o mundo- e é incrível como as pessoas não se lembram disso.

Geralmente, ao se falar das grandes reviravoltas da História, ao se falar dos grandes planos sociais, ao se desfilar as grandes conquistas ou as amargosas derrotas sempre se citam fatos, personagens, isso ou aquilo, mas muitos não percebem que, na verdade, tudo isso era movido por ideais, planos, sonhos...

Há uma frase que eu aprecio bastante que diz: "O medíocre discute pessoas. O comum discute fatos. O sábio discute idéias".

Ao deitarmos nossos olhos no espetáculo dramático da História humana, podemos visualizar isso de forma mais real- e mais dolorosa.

O mar de sangue que banhou a Europa, trucidando homens e mulheres, crianças e adultos, leigos e religiosos, pobres e ricos, teve sua origem não em um agitação política, nem em um líder nato. O Vale de Sangue que temou a Europa no século XX teve sua causa em uma ideia: o Comunismo. Por acreditar nele, que exércitos se moveram, que guerras aconteceram, que cidadãos foram massacrados, que famílias foram despedaçadas. Era para muitos um sonho, um ideal nobre... Mas o sonho desabou sobre suas cabeças e o castelo de sonhos deixou marcas muito reais- uma trilha de sangue em toda a Rússia, em toda a União Soviética.

Foi a ideia de que a raça ariana era superior que levou milhões à morte durante o Nazismo. Foi a ideia do nacionalismo que levou países às mais cruentas guerras.

O grande perigo da humanidade não são as armas de ferro e de fogo; não são os grandes exércitos, nem as bombas de Hidrogênio. O grande perigo da Humanidade são as más idéias, os fúnebres ideais, os macabros sonhos.

E então, mais uma vez, não posso deixar de lembrar da implacável- e furiosa- reação da Igreja contra as Heresias. Ela, perita em Humanidade, caminha há dois milênios com os homens neste vale de lágrimas. Ela sabe a força devastadora que uma ideia- que uma palavra- pode ter.

Os inquisitores abrasavam fogueiras não para conter revoluções ou líderes oposicionistas- mas para conter ideias, que seriam mortais, como a dos albiginenses. Sabiam que uma ideia virulenta dissimulada só levaria à morte e a destruição. Sabendo da força de um ideal, usavam a força física; hoje eminentes literatos reclamam das torturas físicas sem perceberem que praticam algo muito pior em suas obras pestilentas: a tortura moral. Que o diga um eminente escritor que abordado em sua sala por um leitor, assustou-se ao vê-lo ofegante dizendo que ia se matar... e que a culpa era dele, do escritor. Saiu correndo e em pouco tempo jazia morto.

Na Idade Média, o povo não hesitava em matar para se proteger de uma ideia. Hoje, são as ideias que matam- e as vítimas são muitíssimo mais numerosas.

Mas hoje me dia, em uma sociedade extremamente materialista, é difícil perceber isso. Essa verdade parece cada vez mais escondida pela "realidade da matéria"- assim as loucas ideias circulam mais livremente, já que, para a maioria, elas sequer existem, ou, se existem, não oferecem perigo. E assim o mal escondido se torna mais pestilento, porque é tratado não com as armas e as forças que merecem, mas, escondido, é visto, no máximo, como uma características dos tempos- Oh tempora, oh mores.

As ideias são os grandes motores da humanidade para o bem e para o mal.

Apesar de hesitar, não resisto a terminar com um trecho do livro "Ortodoxia", de Chesterton:

"A Igreja ortodoxa nunca tomou a rota fácil ou aceitou as convenções; a Igreja ortodoxa nunca foi respetável. Teria sido mais fácil aceitar o poder terreno dos arianos. Teria sido mais fácil, durante o calvinista século XVII, cair no abismo infinito da predestinação. É fácil ser louco, é fácil ser herege. É sempre fácil deixar que cada época tenha a sua cabeça; o difícil é não perder a própria cabeça. É sempre fácil ser um modernista; assim como é fácil ser um snob. Cair em qualquer uma das ciladas explícitas do erro e do exagero que um modismo atrás de outro e de uma seita depois de outra espalharam ao longo da trilha histórica do cristianismo- isso teria sido de fato simples.
É simples cair; há um número infinito de ângulos para levar alguém à queda, e apenas um para mantê-lo de pé."

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