sábado, 9 de outubro de 2010

A dignidade da coragem


Eu, até há alguns anos atrás, não conseguia compreender a exaltação da Juventude, como a mais bela fase da vida humana, radiante de vitalidade e exulberante de vida. Louvam-na os poetas em seus versos, os românticos em suas prosas, os políticos em seus palaquenques, os oradores em seus discursos, e eu sempre um pouco atônito, um pouco perdido sem saber a causa dos elogios, o porquê das exaltações.

Com o tempo, passei a entender melhor tudo isso e descobri que era a minha interpretação errônea que causava essa divergência. Quando eu lembrava da Juventude, associava, como que de imediato, à Juventude dos anos 60, do "sexo, drogas e Rock'n Roll". A Juventude, como um todo, seria a personificação daquele lema epicurista: "Da vida só se leva a vida que se leva".

Pois bem, eu estava errado. A exaltação da Juventude não se dava pelos motivos que eu imaginava.

Uma vez algum escritor- cujo nome não me lembro- estava em um restaurante, próximo a um senhor já de idade, que estava sozinho na mesa. Quando indagado pelo garçom o que ele desejaria, o ancião respondeu com a voz embargada e os olhos marejados: "Eu queria... Eu queria querer alguma coisa".

Hoje, eu percebo que a beleza da Juventude está na sua coragem e determinação. Na capacidade de defender suas convicções, seus ideais, mesmo a um preço muito caro.

Isso me lembra um trecho do "Ortodoxia", de G. K. Chesterton:

"Quando um homem de negócios censura o idealismo de seu office-boy, geralmente o faz numa fala mais ou menos assim: "Sim, claro, quando a gente é jovem, tem esses ideais abstratos, e cónstrui castelos no ar. Mas na meia-idade todos eles se desfazem como nuvens, e a gente passa a acreditar na política prática, a usar as máquinas que tem e a conviver com o mundo como ele é". Assim, pelo menos costumavam me falar na juventude senhores veneráveis e filantrópicos que agora ocupam honradas tumbas."

Agora, percebo que a Juventude, tão exaltada, nada ou pouco tem a ver com o número de anos, mas sim com a vitalidade e jovialidade de espírito. É a capacidade de quebrar paradigmas, de avançar intrépida, de pular obstáculos, de abandonar a tudo e a si mesmo que é exaltado, que é estimado, que é querido, que é louvável.

Muitos, com o passar dos anos, perdem essa capacidade: de surpreender-se com o mundo, de perceber a beleza da vida e a dignidade da luta. Alguns se deixam abater pela corrupção do mundo e, passivos e inertes, tomam a resolução de que todo ideal mais digno e utópico; que todo esforço é perda de tempo, e, como o homem de negócios de Chesterton, passa a se acomodar nas 'máquinas do mundo'.

Há uma frase poética de Veríssimo bastante profunda: "Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu". E quase morrer é perdar os sonhos, os ideais, a percepção do belo, do justo e do bom.

Então, se a Juventude é esse estado de espírito de não perder o encanto pelo Mundo, pela Beleza, pela Virtude, pelo Bem; se é o encanto de perceber que tudo é mágico, e incrível, e novo, e exuberante então nada tem a ver com os anos do corpo, nem com as badaladas de um relógio.

Lembro-me agora de uma música do seriado Chavez:

"Existem jovens de oitenta e tantos anos,
E também velhos de apenas vinte e seis.
Porque velhice não significa nada,
E a juventude volta sempre outra vez!"
E, em outro trecho:

"E você é tão jovem quanto sente
Pode apostar: é jovem pra valer
E velho é quem perde a pureza
E também é quem deixa de aprender!"

"Não diga não à vida que te espera,
Pra festejar a alegria de viver,
Pra agradecer a luz do seu caminho,
E você vai com isso entender!"

http://www.youtube.com/watch?v=E6fk3xnTLak

Certa vez, Einstein disse que só há duas posições quanto à vida; ou não existem milagres, ou tudo é um milagre. Ser jovem de espírito é perceber que tudo é um milagre- e encantar-se com isso, o que nos permite a capacidade de sonhar, e assim... de viver!

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