sábado, 30 de outubro de 2010

Entre duas miopias



Hoje é o dia final da campanha eleitoral que se arrasta há meses nesta Terra de Santa Cruz. E, nesta madrugada, sou levado a escrevar mais alguns pares de linhas sobre o que está a se nos desenrolar frente aos nossos olhos.

Sei que Dilma vencerá a eleição, não por sua competência ou por sua habilidade política, mas pelo seu padrinho político, o carísmatico e popular presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E confesso que um certo temor e tristeza invadem-me a alma. Tenho plena consciência que os próximos anos serão os anos mais sujos da História Política deste País. Não tenho dúvidas que o País irá tremer e dividir-se diante das incursões do Partido dos Trabalhadores em suas tentativas de desmoralização do País.

É apenas mera questão de tempo para vermos projetos de leis pupularem nos quatro cantos do Brasil, com previsão de descriminalização do aborto, de "controle social da imprensa", de "casamento gay", descriminalização da prostituição e mais uma infandável lista de "propostas partidárias".

Mas não será só isso. Tenho plena consciência que haverá hipertrofia do Poder Executivo; ingerências prejudiciais do Estado na área privada e mais um sem-fim de medidas que terão por objetivos a concretização da "vontade do povo".

Há poucos minutos atrás, estava preparando-me para desligar o computador e ir deitar-me, mas uma frase de um amigo do Orkut me chamou a atenção. Na mensagem do Orkut, ele deixou a seguinte frase: "TEM GENTE QUE É TÃO BURRA QUE PENSA QUE UMA PESSOA QUE TINHA QUASE 10 GRAUS DE MIOPIA ERA GERRILHEIRA!". E eu fico aqui fazendo reminiscência de minhas vagas noções de metafísica, apelando para minhas esfumaçadas recordações de Aristóteles e esforçando-me para lembrar das precisas indicações de Santo Tomás, mas não consigo realmente, a despeito de meu esforço, perceber a relação de causalidade entre ter miopia e ser guerrilheira... Deve ser porque eu estou enquadrado na "gente que é tão burra"!

O grande escritor britânico Gilbert Keith Chesterton, em seu livro Ortodoxia faz uma sublime análise da loucura e do bom senso, e traz, de forma singularmente genial, a sua visão de loucura: é a prisão a uma só idéia.

Todas as teorias devem partir da realidade. Santo Tomas vai dizer que a verdade é a adequação do intelecto às coisas. Singelo, certeiro e verdadeiro. Porém, no fantástico mundo do louco pouco importam os fatos. Não é sua mente que deve se adaptar aos fatos- são os fatos que devem se adaptar à sua mente. Todo o Universo deve se enquadrar naquele doloroso ponto da única idéia; tudo deve gravitar ao redor daquela circular obsessão. Neste caso, como disse o filósofo britânico, todos os remédios são remédios desesperados, todas as curas são curas milagrosas. Curar um louco não é debater com um filósofo: é expulsar um demônio.

Mas o mais interessante em sua análise acerca da loucura é que ele dizia que não adiantava debater com um louco. Dizia que, ao contrário do que todos costumam pensar, o louco não perdeu a razão. Ele teria perdido tudo, menos a razão. O seu grande mal era a perda da imaginação, o sadio pluralismo e a sadia divergência, que o permitessem enxergar além daquela triste prisão de uma idéia só, que o permitessem livrar-se de sua... miopia.

E eu não pude deixar de perceber a estranha analogia da análise de Chesterton com o que eu pude presenciar nessa campanha eleitoral por parte dos entusiasmados petistas: é surpreendente e assustador a prisão deles a uma só idéia.

Para mim, o primeiro sinal de uma lavagem cerebral é uma visão dualista e maniquéia do mundo e das coisas. Isso, para mim, ficou muito mais que comprovado em relação aos partidários da campanha da Dilma. Os nobres companheiros eram os grandes Arautos do Desenvolvimento e da Erradicação da Pobreza, enquanto a oposição era os interesseiros, burgueses que queriam deixar o povo na miséria e na ignorância. De um lado, estavam os altruístas salvadores da Pátria; doutro, os miséraveis traidores dela.

Engraçado que hoje mesmo uma pessoa chega para mim do nada e disse: "Que é isso? Soube que você vai votar no Serra!"... "Tu é louco. Tu é doido. Realmente, é muito ruim o PT, né? O povo tem é que se lascar mesmo, o povo tem é que ficar na miséria. PSDB é o rico cada vez ficando mais rico, e o pobre cada vez ficando mais pobre".

Claro que isso não foi feito com a compostura e a dignidade que a palavra escrita exterioriza. Alías, nunca vi um defensor do PT ter um mínimo de compostura em uma conversa comigo. Pus-me, com uma paciência que não sei de onde retirei, a responder calmamente as questões por ele levantadas, o que o levou a assumir o erro da posição maniquéia, dualista e simplista que manifestara no começo da conversa.

Hoje, percebo claramente que nem os fatos clarividentes são capazes de impedi-los em suas argumentações. A realidade pouco importa. Que se amoldem os fatos à teoria: a esquerda é do bem; a Direita é do mal, e quem disser ao contrário ou é produto da mídia manipuladora, ou é um burguês safado-interesseiro ou é um servidor dos poderosos contra a humilde e pobre população brasileira. Pouco importam os números, os fatos, as análises econômicos... É assim e pronto.

Depois que Frei Betto aparece com um texto mediocre como o que eu comentei em um post abaixo, percebo que não há nenhum escrúpulo por parte deste pessoal em torcer descaradamente os fatos, para adaptar os fatos ao seu mundo cor-de-rosa; ou melhor: ao seu mundo vermelho-sangue.

Agora, Dilma já não foi mais de grupos terroristas. Os depoimentos, a prisões, a ficha criminal são "calúnias da oposição". Afinal, haveria uma incompatibilidade ontológica em ser guerrilheiro e usar óculos. Alguns agora acham que para ser míope de espírito temos que ser também miopes dos olhos.

Hoje eu percebo que não há mais tantos motivos para debates com boa parte deles. Simplesmente porque o debate exige acolhimento à verdade e ao diálogo, o que grande parte demonstra sobejamente não o ter.

Lembro-me que, quando criança, eu tinha um amigo com o qual eu sempre brincava, e, às vezes, aconteciam divergências. Quando meus argumentos eram demasiadamente fortes, ele se limitava a abrir a boca e bater na face, dizendo: "perdeu, vacilou", e cada vez mais alto, de forma a me silenciar.

Os fanáticos partidários do PT agem assim, como meu infantil amigo. Como, no fundo, eles sabem que não podem vencer pela força dos argumentos, querem vencer pelo argumento da força, seja pela violência física, seja pela moral(não foi José Dirceu quem disse que deveríamos apanhar na rua e nas urnas?).

Bem, Dilma não podia ser terrorista mesmo... tinha miopia física, e por acreditar que ela o era, eu tenho miopia intelectual, faça parte da "gente tão burra". Só é uma pena que, no Universo Paralelo criado pelos devaneios petistas, formado por muitas mentiras e algumas meias-verdades, muitos não conseguem enxergar a miopia ética, cívica e moral para a qual caminha o Brasil.

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